61. No de Forca

Comecou com uma pedrinha. Depois outra. Assim, aos poucos, ela foi juntando no quintal da casa as pedrinhas que encontrava em seu caminho. Estava desempregada e adquiriu esse habito, sem saber o por que, enquanto andava perdida pela cidade. Em pouco tempo, seu pequeno amontoado se tornou uma pequena montanha. Os vizinhos olhavam e curiosos se perguntavam o que ela estaria fazendo? Como poderia estar construindo alguma coisa se estava desempregada? E com o marido daquele jeito!? Mas a montanha foi tomando volume e em alguns meses podia ser vista de toda a cidade. Uma noite, ela arrastou tres postes de madeira e os cravou no topo da montanha. Depois, voltou para casa ver o marido. Fazia tempo que nao falavam e ela sentiu que havia chegado a hora. Ao amanhecer do outro dia, a cidade viu o marido balancando no poste com o pescoco preso em um no de forca. Ele havia dito que ela deveria fazer o que bem entendesse para sustentar a casa pois ele era, assumidamente, um vagabundo anticapitalista. E um nao-neo-liberal bebum. Como prova de sua determinacao, o enforcou no topo de sua montanha e saiu a procura dos seus dois melhores companheiros de cachaca para pendura-los, um de cada lado. E assim foi feito. O marido e os dois amigos foram direto para o inferno e ela continuou no ceu-na-terra a procura de um bom emprego. Por isso, o no de forca virou simbolo para todos os vagabundos cachaceiros.