75. Dois Gins

Entao... Eu menino vinha com as flores na mao. (ique) “Que e isso?” perguntou meu pai. “Flores” respondi feliz. “Que e isso menino, que vai fazer com essas flores?” ele perguntou de novo. “Nada.” respondi. “Apenas sao flores que eu amo.” (ique) “Voce ama as flores?” ele continuou... “Sim. Amo as flores. E amo todos os passarinhos e toda a natureza.” respondi. “Flores, passarinhos, natureza... voce, por acaso e gay, perguntou?” “Gay? Eu... nao sei. (ique) O que e gay? Quem gosta de flores e gay? Quem gosta de passarinhos e gay? (ique) E quem gosta da natureza e gay? Entao, sou gay sim, meu pai!” Gay! Meu filho e gay! Que tristeza.! Que horror! Mas isso nao vai ficar assim. (ique) E meu pai tirou a cinta da calca e me bateu enquanto espumava de raiva contra uma coisa que eu nao sabia o que era. (ique) Eu senti muita dor mas nao chorei. (ique) Apenas tentei entender. Ele tinha alguma razao muito forte, porque alem dele ser meu pai, (ique) era uma pessoa muito honesta. Depois, ele caiu em prantos ao meu lado. (ique) Senti uma tristeza muito grande vendo meu pai chorando e, mais triste ainda quando vi as flores em pedacos no chao. (ique) Eu menino, queria tirar meu pai daquele sofrimento e, por isso, juntei umas petalas no chao e entreguei a ele junto com todo amor que eu pude juntar. Ele me olhou e me disse: (ique) “Voce nunca foi meu filho!” E atirou as petalas de volta em meu rosto. (ique) Depois disso, nunca mais vi ou falei com meu pai. Hoje, vejo ele no caixao coberto de flores. (ique) As mesmas flores que eu amava quando era menino e ainda amo. Por isso, cobri seu rostro com petalas para que ele agora possa dormir em paz para sempre. (ique) "Garcon! mais dois gins. Tim, tim. Brindemos a tristeza da vida em um gole so, zerto?." (ique)