76. O Porco II

A mulher entrou em casa carregando um porco nas costas. O homem sorriu, passou a lingua sobre os labios e chamou os filhos. O casal de velhos ficou olhando de longe talvez com medo de nao ser chamado. O cunhado olhou para os amigos com uma expressao alegre e debochada. O homem foi o primeiro a lamber os pelos e a pele do porco, enquanto a mulher, ao seu lado, esperou que ele a convidasse para fazer o mesmo. Um cheiro de suor salgado tomou conta do lugar. Os meninos lambiam o porco e os labios ao mesmo tempo. Depois disso, comecaram a morder o couro do animal ate cravar os dentes na carne vermelha, sanguinolenta e apetitosa. O homem e a mulher sentados a cabeceira jantavam a parte traseira do porco. Os filhos, o lado da barriga. Os velhos, a cabeca. O tio e os amigos, as costas. Pouco tempo depois, a pele cabeluda, o rabo, as orelhas, os intestinos, o figado, os rins, as gengivas, o cerebro e ate os orgaos genitais foram devorados. Satisfeitos, o rosto sujo de sangue e salpicados com pedacinhos de carne, deitaram no chao, uns sobre os outros. Sorriam enquanto cochilavam, roncavam e, as vezes, arrotavam. A noite, alguns ratos subiram pelas pernas da mesa e, juntos com as formigas, comeram os tutanos. No dia seguinte, a mulher jogou alguns poucos ossos esbranquecidos no quintal a casa.