64. A Barriga do Cristo

Cristo Redentor amanheceu gravido. Assim que a neblina foi embora, a cidade olhou para cima e ficou em polvorosa. As pessoas se ajoelhavam no meio da rua, se benziam e choravam vendo Cristo exibindo uma sagrada barriga. Milagre! A televisao subiu rapidamente e os homens das igrejas correram em frente as cameras para explicar aquela graca divina. Um tremendo empurra-empurra para aparecer na teve e mostar ao mundo que muito mais do que Deus ser brasileiro, agora, seu neto tambem seria filho legitimo de nossa querida patria! Nao faltou discurso. E a barriga continuou crescendo, crescendo… Mas, no meio daquele povo encantado, meu irmaozinho Ze Dermeval, nao se deixou enganar. Desconfiou que ali tinha alguma coisa errada. Chamou o Arnaldo e o Manaia e, com uma Kombi da construcao, subiram o morro para levantar um andaime atras da estatua. Com auxilo de uma britadeira, Ze bateu forte na traseira do Cristo ate que uma fenda se abriu e um gas fetido escapou, como uma bomba, em um gigantesco pum. Depois, vindo de uma nuvem marrom, uma chuva de feses se derramou, calma e lenta, sobre toda a cidade que aquela noite foi dormir mais cedo, sem coragem de ligar a bendita televisao. No alto do morro, Cristo sorriu e fechou os olhos para dormir, como fazia todas as noites.