77. O Porco I

A mulher entrou em casa com uma sacola plastica do supermercado pendurada no ombro. Na cozinha, retirou o papel que separava pedacos de carne do porco e jogou com o saco plastico na lata de lixo. Como as bistecas estavam congeladas, usou o forno de micro-ondas ate que elas ficaram moles e esbranquicadas. Depois, as temperou com pitadas de sal e pimento do reino. Na frigideira, aqueceu oleo de soja e deitou sobre as laminas do animal. Imediatamente, um cheiro de defunto queimado tomou conta da sala. Os meninos comecaram a bater os garfos na mesa mas foram advertidos pelo pai. Pouco tempo depois, a mulher trouxe as bistequinhas douradas e uma travessa de arroz que, com o auxilio de talheres prateados, foram rapidamente devoradas. Uma coca litro. O pai pediu licensa para sair e sentou-se em frente da novela. Os avos, foram para a pequena mesa, ao lado, continuar o jogo de cartas. Os meninos agarraram-se em uma brincadeira de luta livre mas o pai os advertiu novamente, pedindo silencio. A mulher, sem tirar um olho da teve, juntou a sobra de ossos e os atirou ao fundo da pia, aonde um triturador roncou enquanto empurrava uma pasta de gordura e proteina pelos canos de pvc da casa ate o esgoto central da cidade. O pai arrotou mas abafou o som com os dedos que ficaram engordurados.